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24.7.16

Stratford-upon-Avon


Este escrito salta pela boca
como o coração da ponta dos dedos
             a esmo, vermelho subaceso.
Este escrito pulsa e acelera como um
compasso de ecrã, a batida turva
espremida no peito, bomba-mor em desacerto.


Todos os escritos uníssonos num estouro
vingam o golpe sadio a paixão viva
– o sangue inconsequente


Todas as antigas palavras dispersas
vencem aquele óbvio do óbito
– o amor à beira da morte escreve somente


      o sempre



the cosmic love




27.3.15

as caixas obscuras

percebo que não me é permitido o voo
a mim não, a arte de voar sem metas
a arte de permanecer no ar
– alguma arte
percebo talvez uma forma diferente de respirar
posso?, em silêncio criar outro oxigênio
a arte de inalar meu próprio ar
e permanecer – alguma arte
mas sem ar
eu, acidente automático
a morte que respira em mim
o desastre

21.12.14

darc


 
Havia três mil soldados ao redor da minha

cabeça. Nove mil armaduras, dezoito mil

baionetas. Todo o aparato da culpa de rir

sem par, invasora e cavaleira. O conflito

porém entrou em guerra, e de novo

venceram mortos e feridos – mestres reais

da sobrevivência. No modo batalha sou

mais feliz: pelo meu campo de flores, lança

de estar no mundo contra a trégua do bom

senso; e pela bandeira sanguínea do amor, 
 
que se empunha somente em movimento.  
 
 


22.6.14



então o gazel partido
um sol desflecha o amor soturno
                      [guia andaluz: Eros ao contrário]
e traz no sopro brisa e secura
desejo de tempestade

deserto

a miragem é perdida
mas sem lei
insiste
 
 
 

21.5.14

Títulos

assim pequenos, tentamos escapar. do enormemente importante. do que antes sempre nos fizera patriados das grandezas intolerantes. furamos o condão do isolamento, descemos do camarote  carregados de minúscula pompa era mais fácil. deixamos, negamos a ridiculeza narcísica das fronteiras de nossa simpática ignorância. que fantástica sensação a de nos relevar. e experimentar desguarnecer: o bastante.
 
  
O lustre dele me ilustra: os editores da Diversos Afins sabem das coisas. 
Minha segunda passagem por lá, na 90a. leva, com alguns poemas do Vate e outros esparsos. É uma das revistas mais plurais que conheço. Bacana.


gozo
princípio de cada dia
repartir
para comer os tempos
feitos de fartura e saciedade

na ceia sem nomes

escolhidos são os que
não escolhem

alimentados são
os que gozam

             e repartem



O link: http://diversosafins.com.br/?p=7467&cpage=1#comment-1077

21.4.14

Rio de Janeiro, cidade de Cristos




O direito à vida é um lugar – campo aberto. Mas sobre as flores pisoteiam. Enlameiam. O direito à vida é um lugar, campo aberto, porém entre destroços violenta-se. A vida, em pleno direito, exige: respeito. Na vastidão somos iguais, lugar do acerto.

O direito à vida é imensidão.


Imagem: Mídia Ninja

30.12.13

Escritoras suicidas



Na corrente entre o meu e o teu brinquedo
                 uma arma

Na mordida entre o meu e o teu cheiro
                                           uma granada

A bala mais perdida do pique-
          esconde

O ápice do ácido quando se derrete
                         em fome

                                                        
Encontro úmido da delícia com a morte
 
 
 
Mentira, tesão e fé foram os temas da edição 45 das Escritoras Suicidas. Este é um dos poemas com o quais participo. Feliz da vida. E suicida.

23.11.13

Engorda


cozinho para meu bárbaro interno

que come três vezes o alimento

de mim, reclama e nunca é satisfeito

dou comida ao soldado egoísta

aquele na luta apenas por si, sem exército

ele engole, mas apodrece

ele mata, me entristece

cozinho e ele deglute casca e raiz

besta que adoece em vômitos

presos de afeto

  se todo homem é uma ilha
  o outro é terra, ao acaso
  para ir de si ao outro
  demanda-se tempo. fato.
            (e eis que tempo
             é espaço. contato.)

  encontro a pedir
  visitas partidas
  desvios atalhos
  da ilha ao continente
  de si a si
             o que fazer do mar
  sem machucá-lo?

19.10.13

Palmos

  deposito as flores. depois a terra. e a cal.
   deposito os anos, todos multiplicados pelas
   palavras assassinadas. as que morreram em vida.
   deposito, como fazem as criaturas, toda a ignorância
   no plano superior – desde que abaixo, inferior às minhas crenças.
   e lacro. e venero.

   deposito a alegria. depois deposito o amor. e o inédito.
   digo adeus ao que não entendo, pois a estabilidade
   cuida de mim, por certo.
   desta vez não deposito o dinheiro. não deposito a rotina,
   mas também sequer o desassossego.
   (eles mantêm-me vivo)

   e então lacro. e venero. e sigo, féretro feliz
   jazigo próspero pelo universo.
   a morte é distante. a morte de verdade.

14.10.13

A real

   Numa cama a céu aberto

   vi Albion outra noite

   mãe que me cobria. Ruiva e santa

   era no entanto a mesma

   louca e linda. Altiva; 

   um olho na câmera outro na saída,

   dizia para puxar o sol de dentro 

   das nuvens, a manta do tempo com

   que me aquecia.

   Entre boots, bricks e brits ela sorria

                   "salve a majestade dos teus dias"
 

   Pensei na realeza da luta.



Depois de um ano de Reino Unido. E porquê. Nasceu assim, fantasia tipo 'antes de dormir'. Alas, está nascendo.

31.8.13

Pátio

       
        correr o mar pelos dedos

              segredo

        entregue a outra luz desfio rosário de brincadeiras

        daquelas guardadas pelo não do tempo

        espécie de berço

                   imerso gigantesco

        onde sucumbem as

        meninas sem paradeiro deste nu

           avesso



        as cruas meninas antigas

        capazes da morte

                   do medo 



        prazer: correr




        com o brinquedo





Primeiro poema publicado na Revista de Poesia e Arte Contemporânea Mallarmargens, em maio de 2012. O coletivo completou agora um ano, e produziu edição especial, em parceria com o jornal O Relevo. Lembro de ter visitado a Mallarmargens e me encantado, pela disposição em criar um ambiente saudável de troca entre os artistas, pela abertura a diversas linguagens e estilos. Considero um dos melhores veículos de divulgação da poesia e das artes no Brasil hoje. A edição comemorativa será impressa, mas pode ser lida já aqui:
 

20.8.13



















A stray dog
is much more human than a flower
than a family photograph
than a wedding ring

The stray dog
smiles with sad eyes
at our sincere and common tragedy
He does not beseech
or pray

A stray dog
is an orphan
as much as the brother men
he adopts on the pavements
to stay beside them
of guide them along the paths

A stray dog
is immense
like the world
with its people from the big cities
and from the deserted fields

He is
a hill
and becomes a kind of being
that inside of people is
something


dying out
 
 
 
The Re-view é uma revista online recém-criada em Londres, com a proposta de ser uma plataforma totalmente aberta, em diversos campos da arte. Cecilia, sua criadora, gestou a revista sob um ponto de vista bastante particular acerca de autoria, desejando fazer do espaço lugar para não especialistas, onde mesmo especialistas são bem-vindos. "It is tricky to strike that balance between open-ness and quality but the way I've settled myself on that issue is that firstly, creativity in its early stages often isn't amazing but that doesn't mean it shouldn't be nurtured. Secondly, sometimes a badly written poem or piece is more relatable even if it is less well-written so even if it doesn't serve an artistic purpose it can still be cathartic for both poet and reader." Quem publica pode manter-se anônimo, se desejar. Seu lema: "Anything by anyone".
Então eis novamente a boa e atualíssima pergunta: qual o futuro da representatividade? Quem irá julgar e entregar ao leitor interativo o que é bom ou não?
Por ser polêmica a proposta ganhou minha simpatia. Daí contribuí para o primeiro número com um poema  aliás, a primeira publicação no UK de um poema meu traduzido. Escolhi o "Cão de rua", do Prova, que considero traduzido mesmo por David Treece, após atenta leitura.
 
 

4.8.13



   mar de violetas:

   mãos no profundo daquela pele

   eu ali, a busca perdida

   o achado perfeito.

   encarne na água. nós:

   o cavalo-marinho.

   é tarde, vão as flores pelas vagas,

   mil e muitas peles do oceano

   e eu aqui, no naufrágio.  com as pétalas.

   sem resgate.



23.6.13

Câmbio

  
    carregamos os vinténs

    por dentro das roupas, debaixo dos braços, colados nas solas.


    – a esmola

                (de amor e de esperança à terra desce)


    vinte vezes vinte mil conhecemo-os bem.

    porém agora os atiramos de volta


    à face dos que cobram – pagamos a moeda

    para nós a mais justa, tributo à ferida de quinhentos anos.


    pagamos. engulam


    milhões



  


Poema publicado em Vinagre, coletânea virtual organizada por Fabiano Calixto acerca dos movimentos que tomaram as ruas do Brasil a partir de junho de 2013. Participam 158 poetas. O link:
http://en.calameo.com/read/00138915630f992bd9a23

16.6.13

           
         escrever a favor dos dias
          
no tempo sentido à contramão

          da vida que finda
          em toda partida

          escrever em favor
          ao fim que se anuncia
          é escritura ao novo –
          o eterno sempre inicia
 
 

 
- do Vate.

3.6.12

TÁBUA AO SOLDADO

 



da terra à terra
: viestes do pó
e pela terra tornas-te tão barro
que desmoldas nas mãos
a fôrma da humanidade

pela terra aniquilas
pela terra estraçalhas
(qual valor é sangue?)
desterritorializas todo direito
             consagrado

que o direito do homem é
– testemunha a Palestina –
terra para todos
vida para todos
à semelhança da semente
a vencer o mármore

da terra à terra
: viestes do pó
e te transformastes em aço



Publicado no caderno "Poemas para a Palestina", da Zunái. Muito bom levantar a voz em versos.
Link: http://www.revistazunai.com/editorial/poemas_para_a_palestina.htm
Imagem: br.geocities.com/ritaamaral/guerra.html