22.6.14



então o gazel partido
um sol desflecha o amor soturno
                      [guia andaluz: Eros ao contrário]
e traz no sopro brisa e secura
desejo de tempestade

deserto

a miragem é perdida
mas sem lei
insiste
 
 
 

21.5.14

Títulos

assim pequenos, tentamos escapar. do enormemente importante. do que antes sempre nos fizera patriados das grandezas intolerantes. furamos o condão do isolamento, descemos do camarote  carregados de minúscula pompa era mais fácil. deixamos, negamos a ridiculeza narcísica das fronteiras de nossa simpática ignorância. que fantástica sensação a de nos relevar. e experimentar desguarnecer: o bastante.
 
  
O lustre dele me ilustra: os editores da Diversos Afins sabem das coisas. 
Minha segunda passagem por lá, na 90a. leva, com alguns poemas do Vate e outros esparsos. É uma das revistas mais plurais que conheço. Bacana.


gozo
princípio de cada dia
repartir
para comer os tempos
feitos de fartura e saciedade

na ceia sem nomes

escolhidos são os que
não escolhem

alimentados são
os que gozam

             e repartem



O link: http://diversosafins.com.br/?p=7467&cpage=1#comment-1077

21.4.14

Rio de Janeiro, cidade de Cristos




O direito à vida é um lugar – campo aberto. Mas sobre as flores pisoteiam. Enlameiam. O direito à vida é um lugar, campo aberto, porém entre destroços violenta-se. A vida, em pleno direito, exige: respeito. Na vastidão somos iguais, lugar do acerto.

O direito à vida é imensidão.


Imagem: Mídia Ninja

30.12.13

Escritoras suicidas



Na corrente entre o meu e o teu brinquedo
                 uma arma

Na mordida entre o meu e o teu cheiro
                                           uma granada

A bala mais perdida do pique-
          esconde

O ápice do ácido quando se derrete
                         em fome

                                                        
Encontro úmido da delícia com a morte
 
 
 
Mentira, tesão e fé foram os temas da edição 45 das Escritoras Suicidas. Este é um dos poemas com o quais participo. Feliz da vida. E suicida.

O olhar do e para o estrangeiro

É o que tem me fascinado desde que saí do Brasil. Quando estamos em "nossa terra" é complicado incursionar por esta sutileza. Mas, em condição diversa, revira-se o céu do pensamento.
Aqui, a gringa sou eu. E ser gringa implica estranhar não apenas a cultura que acolhe, mas a nossa própria. Deslocamento de todos os lados.
Desde que cheguei a Londres o Brasil é motivo de ainda mais conflito – aqui dentro. (Poderia escrever mais, mas sou ruim quando as palavras pedem para ser lógicas.)  
Então falar sobre o Brasil que percebo de fora no UK me dói. Mas ao mesmo tempo perceber também o quanto ele é mistificado, maquiado, incompreendido – como reflexo nascido em parte talvez de nossa própria dificuldade de reflexão interna – desperta o lado raivoso do conflito. Daí quero ser sincera o quanto posso, quero enfrentar as fragilidades; o que não deixa de ser um tipo de luta. Um tipo de amor.
Poder falar sobre isso como poeta, abordando a Vinagre, e me juntar à voz dos amigos no Brasil me emocionou muito. Isso é vida.
Houve bastante interesse, tanto em Manchester (University of Manchester) quanto em Londres (King's College), e especialmente pelo fato de o Brasil não ser um país de leitores. Daí a poesia – que, como disse um alemão na audiência do King's, é sempre deslocada, não importa o perfil leitor do país – destacar-se como reação literária política, foi fator de encantamento. Senti muito orgulho.
O texto que orientou a fala está aqui: https://www.academia.edu/5560795/Conference_Musical_and_Other_Cultural_Responses_to_Political_Violence_in_Latin_America 
E é dedicado a Fabiano Calixto – alma nobre.